O trabalho do acompanhante terapêutico pode ser bastante eficaz para pacientes que vivem em residências terapêuticas, apontam estudos.
De 14 à 18 de novembro, em São Paulo, foi realizado o XI Congresso Internacional de Acompanhamento Terapêutico, XII Congresso Ibero-americano de Acompanhamento Terapêutico e ao V Colóquio Internacional de Humanidades, Narrativas e Humanização em Saúde. Isabel Castelo Branco, acompanhante terapêutico e coordenadora da Residência Terapêutica da Holiste, participou do evento como parecerista do eixo temático “Princípios do AT: Rede, Território e desinstitucionalização”, que pretende analisar, entre outros aspectos, o impacto do trabalho de acompanhamento terapêutico em pacientes que integram residências terapêuticas.
RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA E O TRABALHO DO AT
A residência terapêutica é uma modalidade de tratamento que visa a desinstitucionalização de pacientes crônicos, pessoas que geralmente passaram longos períodos internadas em clínicas psiquiátricas, mas que já não são beneficiadas por este modelo de tratamento. Geralmente, estes indivíduos não conseguem levar uma vida completamente autônoma, e quando a família não possui a estrutura de suporte necessária para cuidar desse paciente a residência terapêutica surge como a opção mais indicada para promover sua autonomia.
Durante o congresso, dois trabalhos trataram especificamente da prática do AT voltada para indivíduos que integram residência terapêuticas. Segundo Isabel, as pesquisas demonstraram que o AT pode ser fundamental para readaptar essas pessoas a um modo de vida mais autônomo, onde precisam decidir sobre as questões que surgem em seu dia-a-dia, que é a proposta desse modelo de tratamento.
“Pacientes crônicos são pessoas que passaram a vida inteira lidando com o transtorno mental. Geralmente, atravessaram diversas crises, ficaram longos períodos internadas em clínicas psiquiátricas e aos poucos foram se afastando de suas profissões, de seus círculos familiares, de amigos e da própria comunidade da qual fazem parte. Portanto, são pessoas que tiveram suas vidas quase sempre tuteladas por terceiros, alguém da família ou alguma instituição de saúde.
O AT vai atuar justamente nesse trabalho de reeducação, de readaptação à uma vida com maior autonomia, que é a proposta do tratamento em residência terapêutica. Aqui, as decisões sobre o funcionamento da casa e demais questões do dia-a-dia são tomadas pelos pacientes, sempre acompanhados por profissionais de suporte, que decidem o que é melhor pra si e assumem a responsabilidade sobre suas próprias vidas” – explica Isabel.
ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E O RESPEITO À INDIVIDUALIDADE
Outro ponto importante do trabalho do AT para pacientes em residência terapêutica é o respeito à individualidade de cada um. Na medida em que esses pacientes vão recuperando sua autonomia, vão exercitando sua capacidade de tomar decisões, redescobrindo seus gostos e preferências, fazendo planos, elaborando metas, enfim, retomando um modo de vida mais ativo e pleno, outras demandas vão surgindo para serem trabalhadas pelo AT junto ao paciente.
“Meu trabalho como AT junto aos pacientes em residência terapêutica demonstra, cada vez mais, que o AT atua no “aqui e agora” das vivências, de forma inesperada e adaptativa, pois não há profissional que possa prever a significação da forma de um indivíduo estar no mundo.
Então, esse é um trabalho continuo, de escuta constante, observações, adaptações, ajustes, intervenções precisas e pontuais a cada nova demanda que surge na vivência do paciente. É um trabalho conjunto entre o paciente e o AT, mas onde o protagonismo das ações deve ser exercido e percebido pelo paciente, inspirando confiança para alçar novas conquistas” – finaliza a especialista.