Na edição de março do Encontros Holiste, o psicólogo André Dória palestrou sobre os aspectos psicológicos do Transtorno Bipolar. O evento é voltado para pacientes e familiares de pessoas que lidam com transtornos mentais.
O psicólogo da Holiste, André Dória, abordou este tema na edição de março do Encontros Holiste, falando sobre os aspectos psicológicos deste transtorno. O evento é gratuito e voltado para pacientes e familiares de pessoas que lidam com transtornos mentais.
Contexto histórico
Desde a Grécia antiga, através de Hipócrates, já existiam registros característicos da euforia e da depressão, estágios do humor que caracterizam o Transtorno Bipolar. Nessa época, as duas fases do humor eram relacionadas aos fluidos corporais: a depressão era associada à bílis negra, enquanto a mania era associada â bílis amarela. Foi nesta época que a “loucura” saiu do campo do divino e passou a ser situada no corpo, importante passo na compreensão da doença. Por quase dois mil e trezentos anos os transtornos mentais eram tratados como patologias do corpo. No século XIX, a patologia sai do fígado para a mente; é quando se passa a estudar mais profundamente o transtorno, caracterizado por períodos de tristeza e de intensa euforia.
No final do século XIX, Kraepelin cria o termo psicose maníaco depressiva e, a partir de então, os momentos de oscilação entre tristeza e euforia passam a ser tratados como uma única patologia. Em 1980, por questões mercadológicas e principalmente para se conseguir uma adesão maior ao tratamento, o termo é atualizado e passa a ser chamado de Transtorno Bipolar do Humor.
Depressão X Mania
A depressão, relacionada ao rebaixamento do humor, é caracterizada pela por uma apatia que toma conta do indivíduo, uma melancolia que não se esvai naturalmente. Ele passa a idealizar apenas a ruína, deixa de lado a vida social, perde o interesse nas coisas que costumava fazer, nas atividades do cotidiano, chegando a perder a vontade de viver, nos casos mais graves, onde o suicídio passar a ser um risco eminente.
Com a euforia já é o oposto: o indivíduo fica acelerado, com mania de grandeza, é tomado por um sentimento de potência que o faz acreditar ser capaz de realizar qualquer coisa, apresentando comportamentos de risco (agressividade, compras compulsivas, comportamento sexual de risco, etc.), situação que também pode levá-lo a óbito por ignorar riscos a si mesmo.
Algumas vezes, ambos sintomas são confundidos com traços de personalidade do individuo, o que atrapalha o tratamento pois tanto o paciente quanto as pessoas em seu entorno demoram em identificar o transtorno.
“Nem tudo pode ser atribuído ao diagnóstico de transtorno bipolar, existem questões que de fato são atribuídas a personalidade, mas essa diferenciação só é possível através de uma orientação profissional principalmente para a família de um paciente com esta patologia” – afirma Dória.
O transtorno Bipolar e o Suicídio
O suicídio está presente, enquanto sintoma grave da doença, tanto nos episódios de mania como nos episódios de depressão. Nos episódios de depressão, o suicídio pode estar atrelado a um pedido de socorro (uma forma de chamar a atenção para o problema) ou à adoção de um ato extremo para encerrar um enorme sofrimento. Já nos episódios de mania, o suicídio é mascarado pela euforia; muitas vezes, os atos cometidos entram em estatísticas diversas, como acidentes de trânsito ou morte overdose.
O psicólogo André Dória comenta que: “Pelo menos 50% das pessoas com diagnóstico de transtorno bipolar já tentaram ou vão tentar o suicídio em algum momento da sua vida. Geralmente, as pessoas demoram anos para pedir a ajuda de um especialista. Só depois que algum episódio grave acontece, seja em um surto depressivo ou de mania, que a família ou paciente procuram um profissional especializado”.
Tratamentos Possíveis
Como a maioria dos transtornos mentais, o transtorno bipolar não tem cura. Contudo, com o tratamento adequado os sintomas desaparecem e o indivíduo pode levar uma vida normal. Os casos simples podem ser tratados ambulatorialmente, enquanto as crises necessitam de uma intervenção mais contundente, como uma internação psiquiátrica.
O tratamento envolve o acompanhamento psiquiátrico e psicológico, tratamento medicamentoso, psicoterapia, adoção de hábitos saudáveis e, nos casos onde o paciente apresente algum bloqueio social, um acompanhante terapêutico pode ser necessário.
“Para o paciente com transtorno bipolar, é fundamental o vínculo do tratamento farmacológico, realizado pelo psiquiatra, e o psicoterapêutico, abordado pelo psicólogo. Normalmente, com a junção destes dois profissionais obtém-se maior êxito” – finaliza o psicólogo.