O transtorno bipolar é uma doença mental que ainda gera muita controvérsia, por vezes banalizada pelo uso do termo para apontar meras oscilações comportamentais. Para esclarecer pontos importantes sobre a doença, o psicólogo André Dória ministrou a palestra “Fulano é bipolar?”, durante a Jornada de Saúde Mental.
O profissional traçou uma linha do tempo e analisou a evolução da visão e do tratamento da doença, desde os primeiros conceitos vindos da Grécia antiga, com o objetivo de demonstrar o perigo da banalização e autodiagnóstico da doença.
“Vivemos, hoje, uma lógica em que a epidemiologia chegou à saúde mental, e muitas vezes o que é normal e o que é patológico é considerado a partir de uma lógica coletiva. Há pessoas que, partindo dessa lógica coletiva, se apropriam de um diagnóstico. Não estamos falando, aqui, de quem têm um diagnóstico clínico de bipolaridade, mas sim das pessoas que se autointitulam bipolar e já chegam aos consultórios com essa nomenclatura. Ao meu ver, nosso papel é descobrir e entender que função tem esta identificação para essa pessoa”, destaca o psicólogo.
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Do coletivo para o individual
André Dória destaca que, se na área da saúde em geral as questões epidemiológicas têm papel fundamental para o diagnóstico, na saúde mental elas nem sempre apontam para a realidade.
“Se uma pessoa chega ao médico com febre e dores musculares, em uma área onde está ocorrendo uma epidemia de dengue, a possibilidade de que ela tenha esta doença é muito grande. No que diz respeito aos transtornos mentais, porém, essa lógica do coletivo não valoriza as particularidades de cada indivíduo”, comenta.
Identificações
André Dória abordou alguns exemplos para demonstrar como a questão das identificações pode afetar os diagnósticos em saúde mental. Um deles foi da princesa Diana, da Inglaterra, que em uma entrevista realizada durante uma visita a Hong Kong, transmitida em rede nacional, afirmou ter desenvolvido anorexia.
“Não havia, na época, nenhum caso registrado de anorexia no local. Meses depois, houve uma epidemia de anorexia em Hong Kong. Através das identificações, uma delas baseada na pessoa ter algo em comum com outra e se colocar no mesmo lugar, ou seja, se autodiagnosticar, o coletivo muitas vezes ganha mais espaço que o individual”, explica André Dória.
Jornada de Saúde Mental
Com o tema “Abordagens Terapêuticas no tratamento dos Transtornos Mentais”, a Jornada de Saúde Mental, promovida pela Holiste, ocorreu em outubro, em Salvador, e abordou questões relacionadas ao trabalho multidisciplinar no tratamento em Saúde Mental.
O evento contou com a intensa participação de profissionais e estudantes da área que, durante dois dias, debateram sobre psicologia, psicanalise, psicopedagogia, terapia ocupacional, nutrição e acompanhante terapêutico no tratamento dos transtornos mentais.