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Homens também sofrem com o machismo

Entrevista sobre estigmas machistas com o psicólogo Cláudio Melo

Cotidianamente, definições distorcidas sobre o que é ser homem são reforçadas e propagadas na sociedade. Desde a infância, meninos são orientados de como devem ou não se portar diante das situações do dia a dia, isolando o que está associado ao universo feminino.

Frases como “meninos não choram” são mais do que comuns, reforçando conceitos e valores machistas de que os homens não devem demonstrar seus sentimentos, pois demonstrariam fragilidade, algo que não é aceitável.

Em entrevista a rádio Sociedade, o psicólogo Claudio Melo abordou o tema com os jornalistas Jorge Araújo e Silvana Oliveira, explicando que os homens também sofrem com machismo.

“Na nossa cultura o machismo está atrelado a valores como “homem não chora”, “homem tem que ser forte”, isso pode ser positivo em algumas situações, mas pode ser negativo também, pois cria o estigma e força com que determinadas pessoas tenham que seguir esses valores mesmo não sendo adequadas para elas”.

A cobrança e o esforço em provar a masculinidade

Diferente das mulheres, os homens têm mais dificuldade de expressar seus sentimentos. Falar sobre questões íntimas não é tão confortável assim, ainda mais quando esta prática pode ser mal interpretada, levando a julgamentos e estereótipos.

Claudio Melo explica que em psicanálise existe um conceito chamado de “complexo da castração”, que acontece quando o indivíduo não consegue conceber a ideia de que algo falta para ele. Isso atinge tanto os homens quanto as mulheres, mas acontece mais com o sexo masculino.

“Para estes indivíduos, qualquer sinal de que o seu corpo não está funcionando perfeitamente, principalmente relacionado ao campo da sexualidade ou reprodutivo, é motivo para demonstrar fragilidade e de que não são autossuficientes. O machismo nasce justamente neste momento. É uma defesa do homem contra a “castração”.

A cobrança e imposição em relação a estes padrões masculinos, juntamente com a repressão das emoções, deixam os homens mais suscetíveis à dependência química, depressão e aumento da agressividade.

Ainda segundo o psicólogo, a dificuldade do sexo masculino em procurar tratamento também vem do preconceito. “Os homens têm uma dificuldade maior de procurar um psiquiatra ou psicólogo, ou até mesmo um médico geral, justamente por conta deste estigma, pois isto poderia colocar em dúvida a sua vigorosidade”.

Minimizando o estigma

Questionado sobre como os pais de hoje devem orientar seus filhos para minimizar este estigma e alertar as futuras gerações de como o machismo pode ser prejudicial tanto para mulheres como para homens, Claudio comenta: “Os pais devem ficar atentos aos valores que estão sendo passados para seus filhos, seja em casa ou na escola, pois são eles que irão direcioná-los futuramente. Outro fator importante é a questão da imposição. Hoje, os jovens têm acesso a muitas informações e são bombardeados o tempo todo com conteúdos diversos, ou seja, se não houver uma monitoração e orientação dos pais através do diálogo, podem surgir conflitos”.