A sexualidade humana é sempre um assunto complexo. A parafilia, por exemplo, é um tema pouco convencional, podendo ser considerado uma preferência sexual ou em alguns casos, um comportamento patológico. A psiquiatra Paula Dione abordou o tema em artigo publicado no Jornal A Tarde.
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O ser humano está constantemente em busca de realização, o que o leva a procurar, entre outras coisas, meios de expressar satisfatoriamente sua sexualidade. O indivíduo inicia sua vida com uma sexualidade complexa e indiferenciada, a qual será desenvolvida e aprimorada ao longo do tempo, exercendo papel fundamental nas futuras relações sociais do sujeito.
Quando se fala em sexualidade, frequentemente entram em cena influências religiosas, as quais geralmente norteiam a organização social. Diante disso, variantes da sexualidade podem encontrar rejeição por parte da sociedade, levando repressão e conflito ao desejo pulsional de determinados indivíduos. Um eventual sucumbir a determinados desejos pode implicar em segregação social ou até, em casos mais graves, ocasionar situações consideradas delito.
Segundo Foucalt, a própria repressão à sexualidade é uma forma de gozo. Tendo em vista a subjetividade e a diversidade da natureza humana, é difícil estabelecer os limites da sexualidade saudável, sendo mais viável determinar os comportamentos típicos ou atípicos de cada contexto sociocultural. Valores morais podem levar o sujeito ao receio da reação do outro ao expressar sua sexualidade, o que pode se apresentar como fonte de frustração e angústia. Quando existe um sofrimento que, dada sua intensidade ou repercussão, caracteriza um transtorno, é interessante que os envolvidos se identifiquem como sujeitos atingidos e busquem um suporte terapêutico.
A parafilia se traduz, etimologicamente, por uma atração em relação a um objeto “paralelo” ao que se considera convencional em determinada cultura. Por poder constituir-se como um comportamento que visa a obtenção de prazer a partir de um objeto, situação ou lugar não-convencionais, a parafilia pode confundir-se com variações da sexualidade ou com transtornos de preferência sexual, que implicarão em natureza patológica a partir de seu funcionamento excessivamente rígido, repetitivo ou dos prejuízos derivados. Assim, nem toda parafilia é patológica; depende da forma como ela se manifesta.
É provável que as parafilias sejam muito mais frequentes do que se imagina, já que cada indivíduo possui suas formas particulares de encontrar satisfação sexual. Uma vez que um dos motivos que leva ao sofrimento psíquico é a não-admissão do desejo variante, por receio ou certeza de pouca receptividade do meio social, há que se trabalhar a abordagem do indivíduo através de olhares panorâmicos, visando encontrar uma saída em que haja entrosamento entre ele e a sociedade. Dessa forma, as pessoas poderão encontrar um melhor direcionamento para suas demandas sexuais, e estarão mais propensas a exercer sua sexualidade de forma saudável.