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SEXUALIDADE: MITOS E TABUS

sexualidade: mitos e tabus

Em todo o mundo, nas mais diferentes sociedades, o tema da sexualidade está envolto em uma série de mitos e tabus. Na edição de janeiro do Encontros Holiste, a psiquiatra Paula Dione esclareceu pontos importantes sobre o tema.

 

Os mitos são representações coletivas, narrativas que tentam explicar a dimensão humana e o mundo a sua volta. Contudo, os mitos não têm uma estrutura vinculada diretamente com a realidade ou a lógica. Quase sempre, tratam-se de simplificações de fenômenos para os quais o homem ainda não possui um conhecimento exato sobre seu funcionamento ou origem.

Assim, Paula Dione debateu os mitos e tabus que ainda hoje envolvem a sexualidade, o que em muitos casos pode trazer sofrimento para indivíduos que, por algum motivo, desenvolveram uma sexualidade permeada por esses fatores.

Assista a palestra completa:

 

DO CAOS À ORDEM

Uma das principais funções do mito é organizar o mundo à nossa vida. Eles são balizadores desse caminho do desconhecimento para algo ordenado, que orienta as ações humanas. Basicamente, os mitos são elementos que dão sentido tanto ao mundo visível, quanto ao mundo fantasmático.

Como evento do mundo visível temos, por exemplo, a reprodução humana. Sempre presente em nossa história, somente no século XX fomos entender exatamente como o processo de geração da vida acontece em nossos corpos. Antes disso, a narrativa mítica e religiosa dava conta de explicar o processo de reprodução humana.

“Às vezes, na própria imaginação do sujeito ele precisa daquele mito para se sustentar. Esse tipo de representação é que em terapia a gente vai tentar identificar e, se for possível, reforçar ou desconstruir. Enfim, na medida em que caminhe pro que for mais funcional para o indivíduo” – explica Paula.

 

REGULAMENTAÇÃO SEXUAL

Ao longo do tempo, as sociedades foram inventando normas e regras para estabelecer o que era um comportamento sexual aceito. Cada uma delas estabeleceu seus parâmetros, de acordo com objetivos específicos de controle da vida moral, da vida material (financeira) e da estrutura das classes sociais.

O casamento, por exemplo, até pouco tempo atrás era um negócio selado entre duas famílias, onde estava envolvido o futuro do patrimônio das duas famílias que se uniam, envolvendo, inclusive, um dote financeiro.

Mas, como é possível regulamentar todo o comportamento sexual e uma sociedade?

“Tem um determinado teórico (Miguel Real) que fala que a noção de pecado é que vai dar sustentação ao poder: o poder econômico, o poder social, o poder moral. E ele fala que esse pecado é o limite do comportamento. (…) Nessa estrutura que esse teórico traz, ele diz que o pecado nasce do medo e da culpa.

Essa hipótese é muito interessante, porque o medo é uma das principais emoções humanas e uma das emoções mais sólidas, umas das emoções mais fortes que o ser humano experimenta. Todo mundo experimenta medo: medo da dor, medo do sofrimento, medo da solidão, medo da morte, então essa vai ser uma ferramenta muito importante de controle social. A outra ferramenta é a culpa. Então, como é que, geralmente, se estabelece a noção de culpa? Você estabelece o caminho correto, e tudo aquilo que desviar desse caminho é maligno” – diz a especialista.

 

ALGUNS DOS ATUAIS MITOS DA SEXUALIDADE

Ainda que haja variação entre as diversas sociedades, a maioria dos seus mitos relacionados à sexualidade são ou já foram bastante similares entre si. Abaixo, listamos alguns mitos que ainda persistem em nosso tempo, com maior ou menor intensidade a depender da sociedade analisada:

 
Sexo é sempre à dois: um dos principais mitos que direcionam comportamentos, o mito de que o sexo à dois coloca alguns pontos em cheque. Por exemplo, para muita gente a masturbação não é um ato sexual. Ou, que sexo com mais de um parceiro seria algo condenável. O fato é que se o ato sexual é realizado de comum acordo e não gera sofrimento entre as partes envolvidas, ele deve ser considerado válido.

Só existe sexo se houver penetração: outro grande mito da sexualidade, nele as pessoas acreditam que sexo só acontece com o ato da penetração, ignorando tantas outras práticas sexuais existentes. Essa é uma visão bastante fálica sobre o ato sexual, que deixa de lado práticas como a masturbação, o sexo oral, os toques íntimos e todos os estímulos que podem levar prazer aos parceiros e fazê-los chegar ao orgasmo.

Se houve sexo, houve orgasmo: aqui, as pessoas acreditam que toda relação sexual termina no orgasmo de ambas as partes, o que nem sempre é verdade. Outro mito bastante vinculado à masculinidade, o problema aqui é que para a maioria das pessoas o orgasmo ocorre apenas no momento da ejaculação masculina. Estudos demonstram que 29% das mulheres do Brasil não alcançam o orgasmo em suas relações. Portanto, é preciso estar atento à satisfação do parceiro, pois sexo não é sinônimo de orgasmo.

Mulher gosta é de dinheiro: nesse mito, impera a ideia de que mulheres não gostam de sexo, não são atraídas por ele nem o buscam. Aqui, o mito tenta determinar o índice de desejo sexual pelo atributo do gênero. Talvez isso responda o fato de 29% das mulheres do Brasil não atingirem o orgasmo: se as mulheres não gostam de sexo, porque se preocupar em ajuda-las a chegar ao orgasmo? Mas, estudos demonstram que a falta de libido acontece tanto em homens quanto em mulheres, por diversos motivos.  Portanto, a ideia de que mulheres não gostam de sexo é falsa.

Sexualidade x Afetividade: algumas pessoas só concebem exercer a sexualidade a partir de uma relação afetiva prévia. É a ideia do sexo após o casamento, por exemplo. Apesar de ser menos comum nos dias atuais, esse ideal ainda persiste em alguns grupos da sociedade, à exemplo dos evangélicos. O problema, aqui, é que vincular as duas coisas pode causar frustrações para o indivíduo em relação a uma delas: aguardar por uma relação afetiva satisfatória, sacrificando o exercício de sua sexualidade, ou o contrário: sacrificar uma vida sexual prazerosa para preservar uma relação afetiva estabelecida.

Sexualidade x fatores biológicos: a maioria das pessoas acredita que alguns fatores biológicos atrapalham o indivíduo de desenvolver uma sexualidade ativa e plena. Idosos, deficientes físicos, pessoas de determinadas etnias ou com condições de saúde adversas geralmente sofrem algum tipo de preconceito sobre sua vida sexual. Para todos os exemplos citados, é possível desenvolver uma sexualidade compatível com cada condição, onde o indivíduo vai vivenciar a experiência sexual à sua maneira.