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Sexualidade: Até que ponto é normal?

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A sexualidade humana é diversificada e caracterizada por uma combinação de vários fatores tais como o sexo, a identidade de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução, além de ser influenciada por aspectos sociais e culturais. Por este motivo é muito difícil conceituar o que é “normal” quando se fala em sexualidade.

Ela faz parte do ser humano e contribui em diversos aspectos da vida, mas para algumas pessoas a sexualidade pode estar atrelada a transtornos mentais. Dra. Paula Dione, psiquiatra da Holiste, em entrevista a CNT, falou sobre a abrangência do termo sexualidade e de alguns transtornos associados.

“A sexualidade é bastante ampla. Mas se formos pensar pelo conceito da Organização Mundial da Saúde, a sexualidade faz parte de um modelo de vida saudável. Ou seja, entende-se que deve ser praticada por um indivíduo adulto, livre, saudável, com capacidade de decidir, contanto que a forma como seja exercida não cause prejuízo e angústia a si próprio nem ao parceiro ou a terceiros”, explica.

Transtornos de sexualidade

A psiquiatra explica que por conta da amplitude da sexualidade, foram definidas algumas subcategorias para caracterizar situações e possibilidades em que a prática não está sendo bem exercida. Segundo ela, o indivíduo pode ter um acometimento em relação ao gênero (disforia de gênero), em relação ao exercício sexual (parafilias) e acometimento em relação a resposta sexual e a satisfação.

A disforia de gênero é quando aquele indivíduo não se identifica com seu próprio gênero. Caracteriza-se pelo desconforto persistente com o sexo de nascimento, e/ou um sentimento de inadequação no papel social deste gênero. Travestis, transgêneros e transexual estão incluídos neste espectro.

Em relação às parafilias, caracterizam-se por excitação sexual recorrente e intensa, manifestada por fantasias, impulsos e comportamentos (excitação por situações incomuns, objetos, animais, adultos ou crianças), que causam sofrimento e prejuízo para o indivíduo, ou que implica dano ou risco a terceiros.

E por fim, as disfunções sexuais que estão ligadas as etapas da resposta sexual e a satisfação, que incluem por exemplo uma disfunção do desejo ou do orgasmo.

Dra. Paula Dione enfatiza “Hoje, o olhar no transtorno e o que o caracteriza é justamente a questão do sofrimento. Seja um sofrimento pessoal ou para terceiros ou até para uma comunidade. Se aquele comportamento sexual não está interessante, está trazendo algum tipo de desconforto ou de incômodo, a ideia é que este indivíduo ou estas pessoas que estejam sofrendo busquem auxílio de um profissional”.

Neste aspecto a informação é essencial segundo a médica. “Quanto mais informação as pessoas tiverem, mais fácil será a busca por orientação. O indivíduo que é acometido por qualquer um destes transtornos sente-se totalmente reprimido de pedir ajuda, normalmente só procura quando é implicado diante de algum aspecto legal. Disseminar a informação para a sociedade, com certeza ajudará o indivíduo a se sentir mais à vontade e ir em busca de auxílio especializado”.

Nova classificação busca amenizar o estigma

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou no mês passado sua nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, o CID-11, e algumas novidades ganharam destaque, como a inclusão do “transtorno do comportamento sexual compulsivo” e a criação de um capítulo sobre saúde mental.

A criação deste novo capítulo tem como objetivo diminuir o estigma enfrentado por quem não se identifica com seu sexo biológico, por exemplo. Porém, o transtorno do comportamento sexual compulsivo não entra nesta nova categoria. Ele foi adicionado como um transtorno do impulso, da mesma forma que a cleptomania ou a compulsão por jogos de azar. A dependência por jogos eletrônicos, por sinal, foi incluída nesse capítulo também.

Essas mudanças refletem a intenção da OMS de ajudar centenas de pessoas que têm prejuízos sérios na vida por causa desses comportamentos compulsivos e não buscam auxílio pelo receio de serem estigmatizados.

Para Dra. Paula, “a sexualidade deve ser pensada a partir do campo das relações sociais, da cultura e formas de vida, pois é algo vivido no âmbito individual, mas cuja constituição é possibilitada através de valores sociais – só assim se escapa da discussão meramente naturalizante ou moralista.  Queremos debater conceitos e aprofundar essa discussão tão importante e necessária”, finaliza a psiquiatra.

 

ASSISTA TAMBÉM A PALESTRA DE DRA. PAULA DIONE: SEXUALIDADE NA HISTÓRIA