Os tabus relacionados ao sexo e a sexualidade na terceira idade são abordados pela psiquiatra Paula Dione em artigo publicado no jornal A Tarde.
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A expectativa de vida da população aumentou; estima-se que, no Brasil, o número de idosos triplicará nos próximos vinte anos. Esse fato vem acompanhado de uma maior atenção ao processo de envelhecimento, que é complexo e envolve diversos aspectos relacionados à saúde, entre eles a sexualidade enquanto variável fundamental à qualidade de vida do ser humano.
Uma vez que a sexualidade frequentemente é reduzida ao coito, as pessoas passam a encarar o idoso como uma pessoa limitada para a atividade sexual. Além disso, muitas vezes a ausência de um companheiro (devido a viuvez por exemplo) delimita o fim das práticas sexuais. A sexualidade, no entanto, não é expressa somente pelo ato sexual, assim como sexo nem sempre significa penetração, sendo necessário diferenciar a genitalidade da sexualidade.
O tabu do sexo na terceira idade existe por se acreditar que a fase de vivenciar a sexualidade é a juventude, época adequada à procriação. Os padrões de beleza corporal também contribuem para o fato, através da crença de que idosos não sejam atraentes para o sexo, ou não tenham vigor para tal. Contudo, pesquisas entre a população idosa identificam que o interesse sexual continua presente nessa fase, além do dado que, quando a relação sexual está ausente, o namoro e o companheirismo surgem como substitutos do sexo.
Com as mudanças do corpo, adaptações podem ser necessárias para ajudar na expressão da sexualidade em idosos. A autoerotização é uma prática interessante na ausência de um parceiro sexual, ou mesmo como atividade sexual paralela. O sexo genital pode deixar de ser a principal fonte de prazer e o erotismo apresentar-se mais difuso, despertando para novas zonas erógenas.
A presença de enfermidades também contribui para a diminuição da prática sexual entre idosos. A disfunção sexual costuma estar associada aos portadores de doenças coronarianas, distúrbios urológicos, diabetes mellitus e outras patologias crônicas, bem como alguns transtornos psiquiátricos. Essas questões podem acabar levando os indivíduos a migrar suas vivências ligadas à sexualidade para outras coisas, como o autocuidado e experiências em comunidade.
Um estudo recente mostrou que a maior parte dos idosos, apesar de possuir alguma disfunção sexual, não procurou orientação de um profissional da saúde, alegando que os mesmos poderiam não estar preparados para atender suas demandas. Cabe ao profissional de saúde investigar a história sexual do paciente, prestando um atendimento que enfoque não apenas a doença, mas a integralidade do sujeito. Afinal, vivenciar a sexualidade, também enquanto idoso, é parte fundamental para a manutenção da qualidade de vida.