Na edição de setembro do Encontros Holiste, o psicólogo Cláudio Melo analisa as consequências do suicídio para os familiares e explica como lidar com o risco do suicídio.
Conviver com o suicídio ou a iminência dele pode levar ao adoecimento psíquico. É um problema que atinge não apenas a pessoa que decide tirar a própria vida, mas, sobretudo, quem está em volta, sobrevivendo ao suicídio, como familiares e amigos.
Quando existe o ato consumado, a situação se agrava. Cláudio Melo explica que, aparentemente, esse tipo de desfecho traz um peso maior que qualquer outro, pois deixa com os que ficam a culpa por não ter estado próximo o suficiente para salvar o ente querido.
Por isso, há a necessidade de estender o olhar às famílias, percebendo que elas também precisam de ajuda especializada.
“Precisamos falar sobre o suicídio, mas pouco abordamos a respeito das pessoas, da família, dos amigos do indivíduo que tentou o suicídio ou concretizou o ato. É um processo difícil, de sobrevivência dessas pessoas que estão ao redor da vítima”, destaca o psicólogo.
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Lidando com o risco do suicídio
Falar sobre os sinais de adoecimento psíquico que podem levar ao suicídio é uma das formas de reforçar a importância do auxílio profissional a pacientes e famílias que convivem com o problema, bem como contribuir para prevenção de novos casos.
O psicólogo aponta que é comum que os sobreviventes do suicídio passem por mudanças em sua rotina, tanto a vítima que tentou o suicídio, quanto a família deste, que pode desenvolver sintomas de experiência traumática, como estresse e ansiedade.
“É comum que os familiares deixem seus afazeres diários, se afastando do trabalho e vigiando o indivíduo que já tentou o suicídio. Com isso, o paciente tende a mascarar os sintomas, se isola, fica mais calado e esconde as emoções porque passa a perceber que o familiar também está sofrendo”, afirma Cláudio.
Ele explica que é frequente o paciente apresentar-se mais colaborativo e menos negativista, disfarçando sua desistência de viver. Segundo o psicólogo, esse é o momento de maior risco, pois o ato suicida pode setar prestes a acontecer.
Enfrentando o suicídio concretizado
Perder uma pessoa querida causa um turbilhão de sentimentos, entre eles a dor e a raiva. Quando a morte é por suicídio, o luto pode se tornar ainda mais devastador. Cláudio aponta que existem fatores que dificultam a elaboração do luto por suicídio, como o estigma que cerca o tema.
“As pessoas têm dificuldade em falar sobre isso, evitando, inclusive, falar a palavra ‘suicídio’. Como consequência, os familiares mais íntimos tendem ao silêncio e isolamento, muitas vezes se sentindo culpado e responsáveis pelo que aconteceu”, explica o psicólogo.
O processo do luto
O luto é um processo caracterizado por um conjunto de reações e emoções, resultado de uma perda muito impactante. Quando tem curta duração, é considerado como não patológico e saudável, necessário para a elaboração dessa ausência, dessa dor profunda.
“Entender esse processo é permitir que o familiar elabore a sua dor, livrando seu sofrimento pela busca de respostas. Acima de tudo, cada um tem sua própria dor e irá elaborá-la em seu tempo e em sua forma. Os grupos terapêuticos são importantes nessa fase, pois permitem falar da dor para o outro sem críticas”, finaliza Cláudio Melo.