Quando se fala em transtornos mentais, existem dois aspectos notórios relacionados ao tema: um deles é o quanto cresceu, nos últimos anos, a busca por diagnóstico, tratamento, esclarecimento e quebra de tabus relacionados às doenças mentais; o outro aspecto é o quanto ainda é necessário avançar na popularização dessas melhorias, para que mais pessoas recebam essas informações e acessem os serviços disponíveis.
Dentro das modalidades de tratamento, a residência terapêutica é uma proposta pouco conhecida do grande público, mas que possui grande eficácia terapêutica no cuidado de pacientes com transtornos mentais crônicos. Nela, o paciente crônico é abordado em sua singularidade, buscando a recuperação de sua identidade enquanto indivíduo, algo que, nesses casos, acaba se diluindo nas características sintomáticas do quadro.
“Passamos de um momento no qual os pacientes eram divididos e tratados por diagnóstico para uma realidade na qual a pessoa passa a participar do seu tratamento de forma ativa, estimulando a responsabilidade, a organização, a ressocialização, deixando de ser um doente e se apresentando como sujeito”, destacou a psicóloga Caroline Severo, que abordou o tema “Laço Social e Sintoma – desafios da Residência Terapêutica”, em palestra apresentada durante a Jornada de Saúde Mental.
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Escuta
Um dos pontos salientados por Caroline foi que, quando o paciente chegava à cronificação da doença, muitas vezes sua fala era descartada, como se a condição agravada do seu quadro, dos seus sintomas, desqualificasse o conteúdo da mesma. Hoje, no modelo de tratamento da residência terapêutica, o foco está na escuta desse indivíduo, na atenção dada ao que o paciente tem para manifestar sobre suas questões pessoais, seus anseios, desejos, compromisso com o próprio bem estar e com seu processo de recuperação.
“Trata-se de reconhecer que há um sujeito dentro do doente e que este sujeito pode ser alcançado através da sua própria fala. Ele não pode ser pensado sem o seu sintoma e o sintoma não pode ser pensado sem o indivíduo. A maneira de fazer a pessoa existir é trazer à cena do tratamento o sujeito do inconsciente”, explicou a psicóloga.
O verdadeiro bem-estar
Dentro da residência terapêutica, busca-se que o paciente se aproprie de sua moradia, que ela se torne, de fato, uma casa para ele. Para isso, os pacientes são estimulados a participar de todas as decisões relacionadas ao manejo desse espaço, se implicando e se responsabilizando durante o processo.
“Diante disso, temos dois desafios. Um deles é a reconstrução dos laços sociais, ainda que, muitas vezes, a expressão do sintoma é algo que gera exclusão social pelo horror que causa no outro. Também é preciso que nós, profissionais de saúde, possamos olhar além do bem-estar físico do paciente – como alimentação, higiene, etc – e ver o que a pessoa está sentindo, desejando, construindo, se consegue se vincular, se sentir pertencido a esta comunidade”, finalizou a psicóloga.
SAIBA MAIS NO VÍDEO RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA E MORADIA ASSISTIDA
Jornada de Saúde Mental
Com o tema “Abordagens Terapêuticas no tratamento dos Transtornos Mentais”, a Jornada de Saúde Mental, promovida pela Holiste, ocorreu em outubro, em Salvador, e abordou questões relacionadas ao trabalho multidisciplinar no tratamento em Saúde Mental.
O evento contou com a intensa participação de profissionais e estudantes da área que, durante dois dias, debateram sobre psicologia, psicanalise, psicopedagogia, terapia ocupacional, nutrição e acompanhante terapêutico no tratamento dos transtornos mentais.